VIVAS

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Por mais mobilidade

 
Iniciativas internacionais comprovam que é possível deixarmos de ser reféns do carro individual por uma cidade com menos trânsito, sem prejuízos para a mobilidade. Lincoln Paiva, idealizador do Projeto Melhorar de Mobilidade Sustentável, dá o exemplo do estado de Washington e afirma: é preciso focar no deslocamento de pessoas e não na circulação de automóveis



O pensamento dos governos, no Brasil, ainda está focado na criação de leis para que a circulação de carros se torne mais eficiente. Essa é a opinião de Lincoln Paiva, idealizador do Projeto Melhorar de Mobilidade Sustentável. Enquanto for assim, o aumento de infraestrutura continuará tendo como conseqüência um aumento do número de veículos em circulação, de modo que o problema do trânsito jamais poderá ser resolvido.

Para o especialista, a saída para a mobilidade urbana é centrar na busca de soluções para os indivíduos realizarem seus deslocamentos. “É preciso pensar na melhor maneira possível de uma pessoa se mover de um lugar para outro de forma sustentável”, diz. Para isso, o primeiro passo é entender que o conceito de mobilidade envolve não apenas o setor de transportes, mas também trabalho, saúde, economia, finanças e meio ambiente.

Lincoln diz que cidades de pequeno e médio porte em países da Europa e nos Estados Unidos têm encontrado boas saídas para o problema da mobilidade, mas os grandes centros urbanos também podem se adaptar. Uma referência interessante para esse último caso é o CTR Board – Commute Trip Reduction Board, criado por Washington. O estado tem seis milhões de habitantes – sendo que 80% vivem em áreas urbanas –, abriga a sede de grandes empresas e sofria com um trânsito caótico. Por usar principalmente energia hidrelétrica, como o Brasil, o maior responsável por suas emissões de carbono é o setor de transportes, com o agravante de que o estado não é auto-suficiente em petróleo.

Esse cenário fez com que o governo decidisse trabalhar juntamente com a iniciativa privada, de modo que as empresas começassem a se sentir responsáveis pelos deslocamentos de seus funcionários, não só pela ida ao trabalho e volta para casa, como pela locomoção durante o dia para visitar clientes, participar de reuniões e eventos fora da empresa ou fazer entregas.
Foi aí que o estado criou um departamento de mobilidade, que incentivava as empresas, por meio de recursos financeiros, a fazerem o mapeamento dos deslocamentos de cada empregado. Os dados coletados serviram para que o governo entendesse como as pessoas se locomoviam e quais eram suas necessidades. A partir desse diagnóstico, foram implementadas iniciativas de home office, horários flexíveis de trabalho, construção de ciclovias, viabilização de caronas compartilhadas, aumento da frota de ônibus em determinados locais, etc. Grandes companhias começaram a aproveitar melhor seus serviços de transporte, evitando o uso de vários carros para levar pessoas, individualmente, ao mesmo local. E algumas leis ainda beneficiaram os indivíduos que deixavam seu carro em casa com descontos no IPVA, e as próprias empresas, com redução de ICMS.
 
O conjunto de medidas serviu para reduzir o tempo que as pessoas ficavam paradas no trânsito, diminuiu o estresse e os gastos com combustível e tornou o transporte público mais eficiente. Três anos depois, mais de 1.100 empresas fazem questão de investir nesse projeto – cerca de 80 milhões de dólares por ano – pois notaram, na prática, os ganhos econômicos que tinham com a iniciativa. Para cada dólar investido hoje, elas recebem 16 de volta.

Pelo fato de as características de Washington se assemelharem às condições que temos em grandes cidades brasileiras, como São Paulo, é fácil perceber que o problema do trânsito por aqui também pode ser resolvido. Lincoln diz que o primeiro passo para isso é evitar as ações punitivas – que reforçam a tendência de os usuários tentarem burlá-las – e mudar nosso conceito de carro como símbolo de status.

Ainda se engana quem pensa que o transporte público é a única solução para a mobilidade urbana. Lincoln alerta que, se migrássemos todos os motoristas para os ônibus e metrôs, as cidades teriam um ônus enorme. Em Londres, por exemplo, além de incentivar as pessoas a andarem a pé e de bicicleta, a prefeitura optou por recomendar às empresas que adotassem a política de home office, que sairia mais barato para os cofres públicos do que incrementar o transporte urbano.
Fonte: Planeta Sustentável.

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