VIVAS

terça-feira, 22 de maio de 2012

Apesar da preocupação, brasileiros desconhecem sustentabilidade.


Em 1995, um episódio da série televisiva Simpsons mostrava o diálogo da família mundialmente famosa ao comprar uma televisão. Quando a filha pergunta à mãe se não podem levar o aparelho certificado, ela responde: “Filha, você sabe que não podemos pagar produtos com filosofia”.

A ironia da cena, não se atém apenas a uma crítica aos preços dos produtos social e ecologicamente corretos – invariavelmente um pouco mais caros -, mas também ao desconhecimento do americano médio sobre os impactos de seu consumo sobre o planeta. Ao chamar de filosofia esse tipo de responsabilidade, insinua de forma simplista que conceitos como sustentabilidade estão fora do cotidiano das pessoas.

Em 2010, já no Brasil, pesquisa “O Consumidor Brasileiro e a Sustentabilidade: Atitudes e Comportamentos frente o Consumo Consciente, Percepções e Expectativas sobre a Responsabilidade Social Empresarial”, realizada e apresentada pelos institutos Akatu e Ethos, mostrou que o desconhecimento ainda é grande no país.

Segundo o levantamento, a maioria da população brasileira (84%) não ouviu falar ou não entende ou define errado o conceito de Sustentabilidade - apenas 16% dos entrevistados mostraram algum conhecimento ou a própria definição do tema.

A pesquisa ouviu 800 mulheres e homens, com idade igual ou superior a 16 anos, de todas as classes sociais e regiões geográficas do país, nas seguintes localidades: regiões metropolitanas (Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém), capitais (Goiânia e Manaus) e Distrito Federal.

A pesquisa segue o conceito foi criado em 1987, por representantes dos governos membros da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), que definem ação sustentável como aquela que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades.

Para Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu, a dificuldade (da população) de definir o termo se deve ao fato de a Sustentabilidade ser um objetivo, um resultado, condicionado por diversas práticas conjugadas. “Por isso é compreensível que parte dos consumidores, mesmo aqueles considerados conscientes, ainda não tenha se apropriado do termo”.

Paradoxos

Embora não entendam os conceitos, no dia a dia, os consumidores relatam já cuidar da sustentabilidade em ações simples. Por exemplo, cerca de 70% fecham a torneira enquanto escovam os dentes, ou mesmo apagam a luz de ambientes desocupados. Em outra ponta, 24% respondeu que separa o lixo para reciclagem e 33% são atentos aos rótulos dos produtos.

A mesma pesquisa apontou que, entre 2006 e 2010, manteve-se em 5% o percentual da população brasileira que adere a valores e comportamentos mais sustentáveis de consumo. A quem o Instituto Akatu chama de consumidores conscientes. Considerando-se o aumento populacional nesse período, houve um crescimento de cerca de 500 mil consumidores conscientes.

No entanto, houve um aumento em 12 pontos percentuais (de 25% para 37% do total) o segmento de consumidores mais distante destes valores e comportamentos, o grupo dos consumidores chamado de “Indiferente”.

A maior queda foi registrada em comportamentos ligados à economia e ao planejamento. Práticas como evitar deixar lâmpada acesa em ambientes desocupados, que eram realizadas por 77% da população brasileira em 2006, hoje são por 69%. O planejamento de compras de alimentos é praticado por 48% da população, há quatro anos, esse comportamento era adotado por 55%.

Segundo, o consultor do Instituto Akatu, Aron Belinky, isso pode ser explicado, pois houve um crescimento no número da população com poder aquisitivo no Brasil nos últimos anos e esse fator “interfere diretamente na avaliação dos comportamentos de consumo”.

A pesquisa aponta que “para ganhar corações e mentes dos consumidores, a sustentabilidade precisa ser apresentada não como conceitos sofisticados, mas traduzidos em práticas e propostas concretas. Tem que ser vista como o caminho mais curto, barato e desejável rumo à felicidade”.

Otimismo

Outro estudo, este realizado pelo Grupo HSBC, divulgado em dezembro de 2010, mostrou que 56% dos brasileiros estão otimistas em relação às mudanças climáticas e acreditam que isso pode gerar oportunidades de emprego e prosperidade para o país. Com o nome de Climate Confidence Monitor, a pesquisa, anual, aborda quatro eixos relacionados às Mudanças Climáticas: as preocupações das pessoas com o tema, sua confiança e comportamento, além da redução das emissões de CO2.

“Os resultados desta pesquisa demonstram a preocupação da sociedade com o tema e revela que mesmo de forma individual, muitas pessoas já estão se mobilizando para conter as mudanças climáticas”, explicou, na época, a superintendente-executiva de sustentabilidade do HSBC, Claudia Malschitzky.

A pesquisa indica que 82% dos entrevistados globalmente já fazem coleta seletiva dos resíduos produzidos em casa, 70% adotam alternativas domésticas que reduzam o consumo de energia e 65% dirigem seus automóveis cuidadosamente a fim de usar menos combustível.

Ainda relacionado ao comportamento individual, foi analisada a questão dos "produtos verdes". E o brasileiro é o povo mais propenso a adquiri-los, sendo que 36% os comprariam se sentissem que o produto faria uma diferença positiva.

O levantamento foi feito com 15 mil pessoas de 15 países - Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Hong Kong, Índia, Inglaterra, Japão, Malásia, México, Singapura e Vietnã. Entre os principais resultados globais, as mudanças climáticas aparecem como terceiro item de maior preocupação da sociedade mundial, após a instabilidade econômica e a violência.

Ainda sobre os Simpsons
Segundo pesquisa do Instituto Akatu, entre dois produtos com preço e qualidade semelhantes, 71% dos consumidores brasileiros decidem levar para casa aquele que possuir alguma causa social. A média mundial seria de 43%.

“O consumidor não confia de forma simples em uma instituição, mas utiliza-se de um julgamento minucioso de atributos que, ao serem combinados, resultam na escolha da marca com a qual se relacionará. Essa interação é marcada por experiências pessoais e atribuição de sentimentos, incorporando um conjunto de valores e atributos que leva o consumidor a diferenciar uma marca da outra”, acredita o diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa, Francisco Azevedo.

Fonte: http://www.rets.org.br/

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Estudo indica que aquecimento global pode se tornar extremo nas próximas décadas (Matéria do UOL – 29/04/2012)





Por Justin Gillis
Novas pesquisas sugerem que o aquecimento global está fazendo com que o ciclo de evaporação e chuva sobre os oceanos se intensifique mais do que os cientistas esperavam, uma descoberta preocupante que pode indicar um potencial maior de manifestações climáticas extremas nas próximas décadas.

Através de medições das mudanças de salinidade na superfície do oceano, os pesquisadores auferiram que o ciclo do clima acelerou em cerca de 4% ao longo do último meio século. Isso não parece ser muito, mas é um número duas vezes maior do que os gerados pelas análises computadorizadas do clima.

Se a estimativa for confirmada, isso implica que o ciclo da água pode se acelerar em até 20% no final deste século à medida que o planeta aquece, levando possivelmente a mais secas e enchentes.

“Isso fornece outra evidência independente de que precisamos começar a levar a sério o problema do aquecimento global”, disse Paul J. Durack, pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Livermore na Califórnia e principal autor de um artigo publicado na sexta-feira (27) na revista Science.

A análise dos pesquisadores revelou que durante os 50 anos a partir de 1950, áreas salgadas do oceano se tornaram mais salgadas, enquanto as áreas de água doce se tornaram mais doces. Essa mudança foi atribuída a padrões mais fortes de evaporação e precipitação sobre o oceano.

O novo artigo não é o primeiro a descobrir uma intensificação do ciclo da água, nem mesmo o primeiro a calcular que ela pode ser bem grande. Mas o artigo parece reunir mais provas científicas para sustentar a estimativa alta do que qualquer outro artigo publicado até agora.
“Estou entusiasmado com este artigo”, disse Raymond W. Schmitt, cientista sênior da Instituição Oceanográfica Woods Hole em Massachusetts, que fez uma crítica do trabalho antes da publicação, mas não esteve envolvido nele. “O padrão de amplificação que ele vê é realmente bastante dramático.”

O artigo é o mais recente de um longo esforço dos cientistas para resolverem um dos quebra-cabeças mais problemáticos do aquecimento global.

Embora a física básica sugira que o aquecimento deve acelerar o ciclo da evaporação e das chuvas, tem sido difícil descobrir quanta aceleração já aconteceu, e portanto projetar as mudanças que provavelmente resultarão do contínuo aquecimento planetário.

O problema fundamental é que as medidas de evaporação e precipitação sobre o oceano –que cobre 71% da superfície da terra, contém 97% da água do planeta e é o local onde acontece a maior parte da evaporação e precipitação– são na melhor das hipóteses incompletas. Para superar isso, os cientistas estão tentando usar a mudança de salinidade na superfície do oceano como uma espécie de medidor das chuvas.

Isso funciona porque, à medida que a chuva cai sobre um trecho do oceano, ela deixa a superfície da água mais doce. Da mesma forma, numa região onde a evaporação excede a precipitação, a superfície se torna mais salgada.

As variações de salinidade são grandes o suficiente para poderem ser detectadas do espaço, e a Nasa recentemente enviou um novo satélite, o Aquarius, para este objetivo. Mas levará anos para obter resultados, e cientistas como Durack estão tentando ganhar uma vantagem sobre o problema usando observações mais antigas, incluindo medições de salinidade feitas por navios e medições recentes de um exército de robôs flutuantes lançados num programa internacional chamado Argo.

Schmitt alerta que o trabalho de Durack e seus coautores, os pesquisadores australianos Susan E. Wijffels e Richard J. Matear, precisaria ser avaliado e reproduzido por outros cientistas.

Outro especialista que não esteve envolvido no trabalho, Kevin E. Trenberth do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica em Boulder, Colorado, disse que Durack produziu provas intrigantes de que o aquecimento global já estava criando mudanças no ciclo da água em uma escala regional. Mas Trenberth acrescentou que duvida que a intensificação global possa ser tão grande quanto revelou o grupo de Durack. “Acho que eles podem ter ido longe demais”, disse ele.

Assumindo que o artigo resista às avaliações, isso sugere que um aquecimento global de 1 grau Fahrenheit ao longo do último meio século foi suficiente para intensificar o ciclo da água em cerca de 4%. Isso levou Durack a projetar uma possível intensificação de cerca de 20% à medida que o planeja se aquece vários graus no próximo século.

Isso seria aproximadamente duas vezes a amplificação mostrada pelos programas de computador usados para projetar o clima, de acordo com os cálculos de Durack. Esses programas costumam ser criticados por céticos das mudanças climáticas que argumentam que eles superestimam as mudanças futuras, mas o artigo de Durack é a mais recente entre várias indicações de que as estimativas na verdade podem estar sendo conservadoras.

O novo artigo confirma um padrão há muito esperado para o oceano que também parece se aplicar sobre a terra: áreas com muitas chuvas no clima de hoje devem se tornar mais úmidas, enquanto áreas secas devem se tornar mais secas.

No clima do futuro, os cientistas temem que uma grande aceleração do ciclo da água possa aumentar ainda mais os extremos climáticos. Talvez o maior risco do aquecimento global, segundo eles, é que importantes áreas agrícolas possam secar, afetando o fornecimento de alimentos, enquanto outras regiões terão mais chuvas torrenciais e enchentes.