YUZAWA,
Japão - Tarobee Ito, 69, é o guardião de um legado familiar que sobrevive há
mais de 12 gerações: ele administra o Tarobee Ryokan, um tradicional
"onsen ryokan" (hotel junto a fontes termais) no desfiladeiro de
Oyasu.
No mesmo local, perto da cidade de Yuzawa, no
norte do Japão, há cerca de uma dúzia de outros estabelecimentos do tipo.
Recentemente, o vapor branco dessas fontes
também atraiu planos para a construção de uma usina geotérmica na região,
considerada um monumento nacional.
O Japão busca fontes energéticas alternativas
-como a geotérmica- desde março do ano passado, quando um tsunami destruiu a
usina nuclear de Fukushima Daiichi.
Os 54 reatores atômicos do país foram paralisados,
e só dois retomaram as operações desde então.
As usinas nucleares forneciam 30% da
eletricidade japonesa. Sua interdição causou uma escassez energética nacional.
Segundo a Associação Geotérmica
Internacional, o Japão tem a terceira maior reserva de energia geotérmica do
mundo, atrás dos EUA e da Indonésia, mas ocupa apenas a oitava colocação em
termos de produção.
O governo japonês diz que pretende triplicar
o uso de energias renováveis, inclusive a geotérmica, até 2030.
Neste ano, o governo destinou 9 bilhões de
ienes (US$ 115 milhões) para levantamentos geotérmicos e solicitou 7,5 bilhões
de ienes para continuar o trabalho em 2013. Reservou também 6 bilhões de ienes
para um programa de ajuda a desenvolvedores de energia geotérmica e está
pedindo 9 bilhões adicionais para prorrogar essa iniciativa.
A primeira usina geotérmica japonesa começou
a funcionar em 1966, numa região próxima a Yuzawa.
Há, atualmente, 17 usinas geotérmicas no
país, mas desde 1974 a construção de novas unidades está suspensa, devido a
preocupações ambientais.
As usinas geotérmicas geram 535 megawatts, ou
0,2% do total nacional. Mas seu potencial é enorme: mais de 20 gigawatts de
energia geotérmica poderiam ser produzidos no Japão, segundo um relatório
governamental.
"Ao contrário das energias solar ou
eólica, que dependem das condições climáticas, a energia geotérmica é bastante
consistente e estável em termos de produção", disse Keiichi Sakaguchi,
chefe do grupo de pesquisas geotérmicas do Instituto Nacional de Ciências e
Tecnologias Industriais Avançadas.
Quase 80% das reservas geotérmicas japonesas
ficam em áreas tombadas como monumentos ou parques nacionais.
Em março, o governo suspendeu a proibição de
novas usinas geotérmicas nesses locais, o que pode resultar em cinco projetos
em monumentos e parques nacionais.
"Muitos moradores da cidade, inclusive
eu, apóiam o desenvolvimento da energia geotérmica. Ela nos diferencia dos
municípios vizinhos", disse Shoji Sato, 77, presidente da ONG Conselho de
Facilitação do Desenvolvimento Geotérmico da Cidade de Yuzawa.
Sato admite que os operadores de pousadas em
Oyasu estão "um pouco nervosos" com o risco de perderem suas águas
termais.
A empresa petrolífera japonesa Idemitsu Kosan
é um dos desenvolvedores desse projeto, e seus representantes já se reuniram
com líderes comunitários para explicar os planos.
A Idemitsu quer perfurar um poço exploratório
de mais de 1.500 metros para testar o volume e a temperatura das águas termais
e dos reservatórios de vapor.
Outro grande projeto geotérmico está previsto
para a Prefeitura (província) de Fukushima. Lá, grupos locais de
"onsens" ainda estão avaliando a situação, e o levantamento técnico
não foi iniciado.
Sakaguchi disse que projetos geotérmicos fora
do Japão já causaram o esgotamento de duas fontes termais, mas que "a
tecnologia para detectar movimentos subterrâneos e a tecnologia de simulação
realmente melhoraram nas últimas duas décadas, então o risco é muito
menor".
O desenvolvimento de uma usina geotérmica
geralmente leva 20 anos, inclusive por causa da demora em obter a confiança e a
cooperação dos locais, segundo Sakaguchi.
Ito, do Tarobee Ryokan, está preocupado.
"Parece que há algum risco envolvido", disse. "Nada é um negócio
fechado."
Fonte:
Folha de S. Paulo
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