O primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de
Mudanças Climáticas, feito por mais de 300 pesquisadores e divulgado nesta
segunda, pinta um cenário nada animador para o clima no Brasil até o final do
século. Em uníssono, eles alertam que todos os biomas do país estão vulneráveis
às mudanças climáticas.
Segundo a projeção mais crítica, a Amazônia poderá sofrer redução nas
chuvas de 40% a 45% e aumento de 5º a 6º C na temperatura entre 2070 e 2100. Se
nada for feito, a maior reserva de biodiversidade do mundo e o maior bioma do
Brasil – ocupando quase metade do território nacional – poderá virar savana.
Além das perdas ambientais, a previsão soa como alerta para o
planejamento energético: por seu potencial, a Amazônia constitui, hoje, a nova
fronteira hidrelétrica nacional.
Existem mais de 100 projetos de aproveitamento de usinas na região,
entre grandes hidrelétricas e pequenas centrais (PCH), de acordo com o
Relatório de Acompanhamento de Estudos e Projetos de Usinas Hidrelétricas da
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A vulnerabilidade das usinas ao humor do clima é um ingrediente que promete
apimentar ainda mais a polêmica que envolve a construção de grandes
hidrelétricas na Amazônia, a exemplo do debate em torno de Belo Monte, e seus
impactos socioambientais, incluindo a questão indígena.
Não é preciso ir longe. Atualmente, a falta de chuvas tem levado os
reservatórios a níveis preocupantes, principalmente no Nordeste, que obrigam o
acionamento das usinas termelétricas, grandes emissoras dos gases de efeito
estufa, que contribuem para o aquecimento global.
A ameaça decorrente das mudanças climáticas soma-se, ainda, àquelas
provenientes de um vilão antigo – o desmatamento, que já consumiu 18% da
cobertura original da floresta nas últimas décadas.
A conservação das florestas tem papel fundamental na geração de energia
em usinas hidrelétricas, conforme mostra um estudo publicado recentemente na
revista científica Pnad.
Um desmatamento de 40% na bacia do Xingu poderia fazer a produção de
energia de Belo Monte cair a 25% do máximo da capacidade em 2050. Juntos, o
desmatamento e as usinas térmicas podem potencializar ainda mais os efeitos das
mudanças climáticas.
O QUE PODE SER FEITO
Nada disso, contudo, espanta os cientistas. A constatação que causa
surpresa é a do quão pouco se sabe sobre a capacidade de cada bioma se adaptar
aos novos cenários e o que pode se feito em termos de mitigação e adaptação.
“É onde abrimos os intestinos da ciência brasileira. Falta uma
estrutura maior de investimento que nos ajude a encontrar maneiras para evitar
o pior”, diz Eduardo Assad, pesquisador do Painel e uma das maiores referências
em clima no Brasil.
“Ainda há uma incerteza muito grande. Por isso, precisamos fazer
diferente, por precaução. Temos 8 mil km de costa no país e nenhum sistema de
geração de energia a partir das ondas do mar”, diz o cientista, que critica o
foco na construção de novas usinas hidrelétricas.
“Grande parte do setor de geração de energia elétrica trabalha com
demanda. Eles esquecem de pergunta se vai ter água eternamente”, pondera.
Além da geração de energia a partir de ondas do mar, Assad destaca o
potencial da energia solar, especialmente dos sistemas de aquecimento de água.
“Hoje, 17% da energia elétrica fornecida no Brasil é pra aquecimento do
chuveiro”, afirma.
“Isso é uma Itaipu”. Para o especialista, com mais estímulos à fonte
termo solar, que é uma tecnologia disponível no mercado, seria possível
diversificar a matriz energética e diminuir a dependência de hidrelétricas.
Fonte: Planeta Sustentável.
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