VIVAS

domingo, 22 de setembro de 2013

Mackinac Island (EUA) - A cidade sem carros.


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No estilo de vida atual, ainda é difícil pra muita gente imaginar a vida sem carro, mas existe uma cidadezinha nos Estados Unidos onde nenhum veículo automotivo é permitido há 115 anos.
Quando os primeiros automóveis surgiram na região, os moradores da pacata cidade do estado de Michigan, Mackinac Island, decidiram que seria uma ótima ideia eliminar o barulho e a fumaça emitida pelos veículos. E transformaram essa ideia em lei, assinada em 6 de janeiro de 1898, que sentenciava: “O trânsito de carruagens sem cavalos está proibido nos limites da Vila de Mackinac”. Com o tempo, claro que foi necessário atualizar a resolução inicial, permitindo que as bicicletas circulassem pela cidade. E elas não só passaram a movimentar a cidade, como se tornaram o principal meio de transporte da população.
Hoje, Mackinac Island é habitada por apenas 500 pessoas, mas em alta temporada chega a abrigar até 15 mil – todas em busca de refúgio e calmaria. Uma das principais atrações turísticas é a rodovia, de quase 14 quilômetros, por onde circulam bike ou carruagem. Não há estacionamentos ou postos de gasolinas e, durante boa parte do trajeto é possível deliciar-se com a vista do litoral.
Mas isso tudo não quer dizer que os habitantes de Mackinac Island não precisam de carro em momento algum. Por motivos de segurança e para atender emergências, há poucos carros na cidade – todos da prefeitura – e não é comum vê-los circulando.
O jornalista Jeff Potter visitou a cidade e escreveu uma reportagem no periódico Bicycle Times*, na qual afirma que o ar dessa linda cidadezinha americana é mais limpo e que as doenças são menos incidentes por causa dos exercícios praticados cotidianamente por seus habitantes. Além disso, “trata-se de uma sociedade igualitária, já que todos têm o mesmo meio de transporte”.
O mais interessante dessa história é que o estado de Michigan – ao qual pertence esta cidade por onde ainda circulam carruagens – tem a indústria automobilística como uma das principais fontes da economia.
Nós também temos uma “Mackinac Island” no Brasil! A cidade de Afuá, no Pará, proibiu o trânsito de carros ou motos, como mostrou a revista National Geographic Brasil em sua edição de maio.  Nela, o repórter André Julião contou: “Afuá provavelmente é o único município brasileiro onde carros e motos são proibidos em toda sua extensão. Isso a tornaria a única cidade livre de emissões de gases de carbono, não fosse a energia elétrica gerada da queima de óleo diesel. Não é difícil crer que, à exceção dos bebês, cada um de seus 35 mil habitantes tenha uma bike”.


terça-feira, 10 de setembro de 2013

1° Relatório de Mudanças Climáticas prevê transformação da Amazônia em Savana.




O primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, feito por mais de 300 pesquisadores e divulgado nesta segunda, pinta um cenário nada animador para o clima no Brasil até o final do século. Em uníssono, eles alertam que todos os biomas do país estão vulneráveis às mudanças climáticas.
Segundo a projeção mais crítica, a Amazônia poderá sofrer redução nas chuvas de 40% a 45% e aumento de 5º a 6º C na temperatura entre 2070 e 2100. Se nada for feito, a maior reserva de biodiversidade do mundo e o maior bioma do Brasil – ocupando quase metade do território nacional – poderá virar savana.
Além das perdas ambientais, a previsão soa como alerta para o planejamento energético: por seu potencial, a Amazônia constitui, hoje, a nova fronteira hidrelétrica nacional.
Existem mais de 100 projetos de aproveitamento de usinas na região, entre grandes hidrelétricas e pequenas centrais (PCH), de acordo com o Relatório de Acompanhamento de Estudos e Projetos de Usinas Hidrelétricas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A vulnerabilidade das usinas ao humor do clima é um ingrediente que promete apimentar ainda mais a polêmica que envolve a construção de grandes hidrelétricas na Amazônia, a exemplo do debate em torno de Belo Monte, e seus impactos socioambientais, incluindo a questão indígena.
Não é preciso ir longe. Atualmente, a falta de chuvas tem levado os reservatórios a níveis preocupantes, principalmente no Nordeste, que obrigam o acionamento das usinas termelétricas, grandes emissoras dos gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global.
A ameaça decorrente das mudanças climáticas soma-se, ainda, àquelas provenientes de um vilão antigo – o desmatamento, que já consumiu 18% da cobertura original da floresta nas últimas décadas.
A conservação das florestas tem papel fundamental na geração de energia em usinas hidrelétricas, conforme mostra um estudo publicado recentemente na revista científica Pnad.
Um desmatamento de 40% na bacia do Xingu poderia fazer a produção de energia de Belo Monte cair a 25% do máximo da capacidade em 2050. Juntos, o desmatamento e as usinas térmicas podem potencializar ainda mais os efeitos das mudanças climáticas.

O QUE PODE SER FEITO
Nada disso, contudo, espanta os cientistas. A constatação que causa surpresa é a do quão pouco se sabe sobre a capacidade de cada bioma se adaptar aos novos cenários e o que pode se feito em termos de mitigação e adaptação.
“É onde abrimos os intestinos da ciência brasileira. Falta uma estrutura maior de investimento que nos ajude a encontrar maneiras para evitar o pior”, diz Eduardo Assad, pesquisador do Painel e uma das maiores referências em clima no Brasil.
“Ainda há uma incerteza muito grande. Por isso, precisamos fazer diferente, por precaução. Temos 8 mil km de costa no país e nenhum sistema de geração de energia a partir das ondas do mar”, diz o cientista, que critica o foco na construção de novas usinas hidrelétricas.
“Grande parte do setor de geração de energia elétrica trabalha com demanda. Eles esquecem de pergunta se vai ter água eternamente”, pondera.
Além da geração de energia a partir de ondas do mar, Assad destaca o potencial da energia solar, especialmente dos sistemas de aquecimento de água. “Hoje, 17% da energia elétrica fornecida no Brasil é pra aquecimento do chuveiro”, afirma.

“Isso é uma Itaipu”. Para o especialista, com mais estímulos à fonte termo solar, que é uma tecnologia disponível no mercado, seria possível diversificar a matriz energética e diminuir a dependência de hidrelétricas.